Estamos em um momento no qual não é possível falar de mineração sem pensar nas tragédias de Brumadinho e Mariana (MG). Isso levanta sérias questões acerca do futuro da atividade mineratória.
A mineração brasileira é um capítulo profundamente inscrito na história do nosso país. Uma moeda que tem dois lados: em um deles, uma atividade de extrema relevância para a economia do Brasil. De outro, um preço incalculável: tragédias por má gestão de rejeitos, segurança negligenciada, impactos ambientais e sociais.
Com este cenário, o que se anuncia como tendência e quais são as novas perspectivas para a mineração no Brasil e no mundo? Confira o que vem pautando os rumos desta atividade:
Mineração a seco
Esta é a pauta sobre a qual mais se tem falado depois das tragédias. Ao que tudo indica, seja pelas consequências dos acontecimentos ou por pressão da sociedade e poder público, a tendência é a de que cada vez mais se adote a mineração a seco.
A forma mais barata de explorar o minério é por meio de processamento hídrico. Contudo, é um procedimento que utiliza um enorme volume de água. Além do desperdício (caso não haja técnicas de reaproveitamento), o armazenamento também oferece riscos ao entorno e é exatamente desta forma que são produzidas as barragens de rejeitos.
Na mineração a seco pode-se reduzir em até 93% a utilização de recursos hídricos. Duas dessas técnicas consistem em:
- Filtragem e compactação de resíduos: um filtro retira a água dos rejeitos e permite o empilhamento desses resíduos que foram drenados.
- Pasta Mineral: produzida por adensamento de material de baixa granularidade.
As possibilidades de reutilização
O maior desafio da mineração diz respeito à gestão de rejeitos. Optar pela forma mais barata demonstrou que, no fim das contas, o preço pode ser pago com vidas.
Esse tem sido um grande motivador para encontrar novas tecnologias e formas de reaproveitar o “lixo” da mineração. E boas soluções, advindas de parcerias com universidades e centros de pesquisa, felizmente têm aparecido cada vez mais.
O setor que tem figurado com protagonista na reutilização dos rejeitos é o da construção civil. Alguns materiais que podem ser fabricados a partir de rejeitos de minérios são:
- Telhas: a UFLA (Universidade Federal de Lavras) desenvolveu tecnologia para fabricar telhas, blocos e tijolos com rejeitos. Os materiais apresentam qualidade duas vezes superior aos disponíveis no mercado;
- Cimento, argamassa e pigmentos: a UFOP e a UFMG desenvolvem projetos premiados por transformar os rejeitos em materiais para construção, chegando a levantar uma casa protótipo com lama de barragem.
Fazenda Urbana: um exemplo a ser incentivado
Dentro de um shopping em Belo Horizonte foi implementada a primeira fazenda urbana da América Latina. Lá, são produzidas e vendidas hortaliças sem agrotóxicos, há espaço de convivência e um restaurante que usa os ingredientes que eles mesmos produzem.
Com o apoio do CDTN (Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear), lama e areia advindas dos rejeitos da Samarco se transformaram e piso e mobiliário. Blocos intertravados, mesas, cadeiras e decks foram inteiramente produzidos a partir de rejeitos de mineração.
No que ainda é preciso avançar
Mesmo com tantos projetos, pesquisas e tecnologias avançadas, os investimentos ainda são insuficientes. Também é preciso uma maior conscientização das mineradoras para a adoção dos métodos secos de exploração, bem como a cessão dos rejeitos.
O poder público também tem seu papel: mudanças na legislação podem fazer com que as mineradoras invistam mais no reaproveitamento dos rejeitos. Como a mineração a seco apresenta custos mais altos, a contrapartida poderia ser por meio de benefícios fiscais para quem adotar práticas de reutilização e redução dos mesmos.
Há de se aproveitar que ainda estamos vivendo as repercussões das tragédias ocorridas em MG para ampliar as discussões e a conscientização acerca da atividade mineratória. Com tecnologia, pesquisa, inovação e foco em sustentabilidade é possível projetar um novo cenário, no qual as pessoas e o meio ambiente estejam em primeiro lugar.
Você vê com bons olhos o cenário que se define para a mineração ou acredita que ainda estamos longe de soluções satisfatórias? Não deixe de registrar seu comentário!